domingo, 8 de maio de 2011

Ciberciência cidadã

Semana passada participei do evento brasil@home organizado pelo Citizen Cyberscience Centre, uma organização sem fins lucrativos que promove a (ciber)ciência cidadã no mundo. Ciência cidadã diz respeito ao envolvimento dos cidadãos comuns com atividades científicas. Esse tipo de iniciativa remonta ao início do século passado com projetos como o Christmas Bird Count em que voluntários fazem um trabalho de campo em um determinado dia do ano e em regiões específicas do globo, contando pássaros. Com o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação novas possibilidades de ciência cidadã vêm surgindo, sob a denominação de ciberciência cidadã.

Talvez o exemplo mais conhecido desse tipo de atividade são os projetos de computação voluntária, como SETI@home e folding@home, onde os cidadãos doam o tempo ocioso de seus computadores ou consoles de videogame para executar aplicações científicas. O software usado no projeto SETI@home foi generalizado dando origem ao middleware BOINC que no momento é usado por cerca de 40 projetos de computação voluntária, entre eles os projetos World Community Grid, financiado pela IBM, e o Ibercivis, financiado por várias entidades na Espanha e em Portugal. Esses dois projetos têm a particularidade de serem projetos "guarda-chuva", abrigando diversas aplicações de vários domínios científicos. De 23 a 27 de maio estaremos recebendo no LSD dois membros do projeto Ibercivis que irão nos ajudar a implantar um serviço de computação voluntária no Brasil, parte da federação do projeto Ibercivis. Nesse período tentaremos também portar duas aplicações científicas para serem executadas no novo serviço: uma aplicação de bioinformática da Fundação Oswaldo Cruz e outra de gestão de recursos hídricos de nossos parceiros da UFCG.

Mais recentemente a ciberciência cidadã tem buscado um maior envolvimento dos cidadãos que vai além da simples utilização do tempo ocioso de seus computadores. A idéia é usar a capacidade cognitiva dessa grande rede de recursos para avançar a ciência. Esse tipo de atividade ganhou o nome de volunteer thinking e vai desde a ajuda para coletar dados, passando por atividades de classificação, até verdadeiras descobertas científicas. O projeto oldWeather.org, por exemplo, usa o trabalho voluntário de centenas de pessoas para armazenar em bancos de dados as informações sobre o tempo nos últimos 200 anos registradas nos diários de navios da marinha Britânica. Esses dados são muito importantes para uma avaliação consistente dos impactos que as mudanças climáticas podem trazer para o planeta. Outro projeto de volunteer thinking é o GalaxyZoo, que usa voluntários para classificar galáxias. Esses e outros projetos semelhantes estão organizados no portal Zooniverse. Finalmente, aplicações bem mais elaboradas podem tirar ainda mais proveito do trabalho de voluntários. A aplicação Foldit é um jogo que busca encontrar alvos de drogas para doenças através de uma abordagem lúdica, onde o jogador é levado a avaliar a melhor forma de acoplar proteínas.

Como resultado do evento Brasil@home, está se tentando formar uma comunidade no Brasil para fomentar iniciativas de ciberciência cidadã. Em breve essas iniciativas serão agrupadas no portal Ciência Cidadã. O serviço de computação voluntária que o LSD irá prover, deverá ser uma das primeiras ações concretas desta comunidade. Várias idéias de projetos de volunteer thinking também estão sendo discutidas. Se você tiver uma idéia de um projeto interessante, nós teremos o maior prazer de poder lhe ajudar a desenvolvê-lo.

Mais sobre a repercussão do evento pode ser visto/ouvido no video abaixo e neste programa da voz do Brasil.

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