domingo, 3 de maio de 2009

Quais os "tópicos quentes" de pesquisa em Redes de Computadores? Veja o que rolou no INFOCOM 2009!

Olá pessoal! Primeiramente (da mesma forma que peruca) gostaria de agradecer a Naza pelo convite para contribuir com o blog... sinto-me honrado.

Nesse meu primeiro post, gostaria de relatar a mega-experiência que foi, para mim, participar de um dos principais congressos internacionais na grande área de redes de computadores: o INFOCOM. O objetivo não é fazer um resumo das palestras técnicas e sim dar uma visão geral dos tópicos abordados nas sessões e a impressão que fiquei da conferência. (Se alguem precisar de algum material apresentado por lá, sinta-se à vontade para me pedir.)

Logo no domingo (19/04) aconteceu um tutorial para os estudantes participantes do INFOCOM, intitulado "Sensor networking: next-generation sensor networks and applications". Estavam lá na frente os Professores Jim Kurose (aquele mesmo do nosso livro de redes) e o Ramesh Govindan (até então, desconhecido para mim). Minha impressão foi que os dois fizeram uma propaganda (no bom sentido) e um discurso motivacional para atrair a atenção dos estudantes para a área. Ambos estão atualmente pesquisando em redes de sensores (WSN - Wireless Sensor Networks). O tutorial foi bem legal e manteve-se num nível superficial. Impressão nº1: Kurose é o cara!

No dia seguinte (segunda-feira) foi o dia do Student Workshop e algumas outras sessões técnicas que perdi por estar no workshop. Eu apresentei meu poster, intitulado "Towards a Robust Pollution Control Mechanism for P2P File Sharing Systems", pela manhã. Fui abordado por aproximadamente oito pessoas e foi muito legal! Destaco um momento que chegou uma italiana, olhou o poster por uns 2 minutos, e perguntou por que eu havia colocado um número "2" em minha equação de cálculo de reputação. :-) O problema é que a equação era herança de um trabalho anterior e, apesar de saber a influência do valor, não sabia o porquê "2" e não "3" ou "4". Pensei em responder que era o único primo par :-)))) Impressão nº2: É difícil achar alguém que esteja trabalhando na mesma coisa que você, no nível de detalhes que você está (adiante comento mais sobre isso, parafraseando o Prof. Kurose), em uma conferência de propósito geral (grande área de redes).

No coffee-break desse dia fui abordado por duas pessoas. Sim, é impressionante como as pessoas vão para essas conferências para fazer contatos. O primeiro era da universidade de Waterloo, o segundo era de Berkeley (depois fui descobrir que este era orientando do lendário Prof. Papadimitriou, autor do nosso livro de Teoria da Computação :-). Impressão nº3: Diferentemente dos congressos nacionais, as pessoas são muito mais intrusivas (no bom sentido) em eventos internacionais.

Para não me delongar muito nesse post, vou falar sobre os principais painéis da conferência e dar a visão geral dos tópicos abordados nos artigos apresentados. Na parte da tarde do workshop, aconteceu um keynote e um painel muito show! O keynote, intitulado "10 Things I Wish My Advisor Had Told Me", foi apresentado pelo Prof. Kurose e recomendo fortemente sua leitura. Em resumo, ele fala para evitar áreas de pesquisa populosas pois você provavelmente precisaria ser um gênio para conseguir competir com quem já está há muito mais tempo na área (palavras do próprio professor). A idéia é chegar no tópico antes de ele estar crowded. Ele fala da importância de estudar matemática e ter um conhecimento multi-disciplinar. Ele ressalta também que ao final da sua dissertação/tese, você é o cara que mais deve entender daquele assunto no mundo :-).

Já o painel foi um pouco polêmico e pelo seu título, "How to be successful in research?", não é difícil de imaginar o porquê. Cada um dos painelistas apresentou algumas idéias que ao meu ver foram de encontro com o nossas métricas de avaliação (QUALIS). Não sei agora com a reforma, mas todos os painelistas enfatizaram que é muito melhor um artigo em uma boa conferência, do que vários em conferências "meia boca". Até o brasileiro Edmundo Souza e Silva (UFRJ), no painel, corroborou com a idéia. É, eu também concordo, mas a realidade que enfrentamos aqui no Brasil é outra. O mundo não é cor-de-rosa e os pesquisadores brasileiros sabem do que eu estou falando. O último a falar foi o Prof. Kurose que, fazendo jus à fama, simplesmente fechou com chave de ouro. Enquanto os demais painelistas apresentavam seus slides, ele preparou os dele :-))) Isso mesmo, ele apontou e criticou TODOS os quatro painelistas anteriores em algum ponto, com direito a foto dos mesmos e tudo mais. O seu título era "Mitos e Verdades". :-)))))) MUITO BOM! Impressão nº4: A dificuldade que as pessoas têm em fazer pesquisa, definir problema, modelar (etc) é igual em todo lugar. No entanto, eles (EUA) saem na frente por ter mais apoio ($) e, consequentemente, mais aceleração.

O último painel que assisti foi o "What Are The Hot Topics in Networking?". Entre os painelistas estavam os Professores Don Towsley e Keith Ross. Esse último atraiu a atenção das câmeras. (Ele é co-autor do livro de redes junto com o Prof. Kurose, para quem não sabe.) Cada um dos painelistas puxou um pouco da sardinha para seu lado. Tópicos como Network Coding, Delay Tolerant Networks, Wireless Sensor Networks, Peer-to-Peer e Social Networks concentraram maior parte dos comentários. Esses dois últimos bastante tocados pelo Prof. Ross (tenho fotos dos seus slides e os do Prof. Towsley, quem quiser me passa um email). Ele atesta que redes sociais+P2P pode ser uma combinação promissora para resolver diversos problemas de sugurança em redes entre pares. Fica fácil resolver o problema quando assumimos uma grande rede de relacionamentos e confianças entre as partes, né? :-\ Eu sou totalmente preconceituoso quanto a essa frente, mas isso já seria assunto para outro post. Impressão nº5: Tópico quente para alguém é aquele em que ele pesquisa.

Fechando o post, deixo minha impressão geral sobre o evento. Praticamente todos os trabalhos aceitos para publicação no INFOCOM precisam ter uma boa modelagem matemática. Mais que isso, eles precisam (e apresentaram) uma validação experimental no mínimo razoável. Quando não, extensas simulações eram apresentadas. É muito difícil encontrar trabalhos de brasileiros lá. Esse ano teve apenas um do Prof. Otto (UFRJ) e ano passado, salve um engano, um do Prof. Edmundo Souza e Silva (UFRJ). Antes disso, acho que só em 1998. :-))) Achei muito estranho não encontrar trabalhos sobre Grades Computacionais, não sei se isso é comum no INFOCOM. Sobre a qualidade técnica dos trabalhos, não é difícil encontrar trabalhos igualmente bons no LSD e na UFRGS (onde atualmente pesquiso), a diferença é que pecamos um pouco na modelagem analítica. E então, por que não publicamos lá? Ouvi comentários que os brasileiros preferem aproveitar o timing e submeter seus trabalhos em conferências igualmente qualificadas (segundo o QUALIS) e que tenham mais chances, ao invés de "perder" o tempo esperando para, no final, correr o alto risco de ter seus trabalhos rejeitados.

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